sobre a peça Negrinha monólogo criado por Sara Antunes dirigido por Luiz Fernando Marques e com arte e figurino Renato Bolelli Rebouças

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

NEGRINHA RIO DE JANEIRO CASA DA GÀVEA

NEGRINHA

Foto: divulgação

SESC Rio Casa da Gávea - Sara Antunes (foto)

Por Sabrina Schemberg

Depois de percorrer o Nordeste, a peça reestreia em curta temporada na
Casa da Gávea

28 de agosto a 26 de setembro de 2010

Órfã aos sete anos, uma menina nascida na senzala vivia os abusos da patroa na época da abolição. Uma infância de maus tratos e castigos. Assim viveu Negrinha, personagem de Monteiro Lobato, no conto de mesmo nome, escrito em 1920. Inspirados no texto, o diretor teatral Luiz Fernando Marques e a atriz Sara Antunes se uniram na concepção do monólogo Negrinha, que após percorrer diversas cidades no Nordeste, volta ao Rio para curta temporada na Casa da Gávea, a partir do dia 28 de agosto.

Em cena, Sara vive a menina negra que não tem nome e é chamada pelo apelido que identifica sua raça, no diminutivo. Com afeição pelas cores, em especial pelas das pessoas, a criança chama todos ao seu redor também pelas tonalidades que enxerga, ressaltando de imediato a crítica presente no texto: o preconceito da cor. "O conto serviu como ponto de partida para a criação de uma dramaturgia própria", explica a atriz.

A montagem apresenta uma experiência sensível, como uma imersão ao universo de Negrinha, através de sons e cheiros, resultado de uma profunda pesquisa. Como uma viagem no tempo, ao entrar na Casa da Gávea, o público encontrará a Casa Grande, com cadeiras e poltronas de época, e a Senzala, com esteiras e tocos de madeira. A iluminação é feita por velas, onde sombras e luzes atuam ao lado da atriz. Negrinha é um trabalho artesanal, voltado para o preciosismo das palavras, objetos e figurinos, para realçar novas nuances dessa história.

Criada em 2007 com incentivo do Programa de Ação Cultural (PAC), a peça surgiu da necessidade de fazer ecoar, pela voz baixa e frágil de uma menina, um momento crucial da história do Brasil: o fim da escravidão. O monólogo evidencia um país que a história oficial não relata, pois traz a perspectiva de uma criança: uma “negrinha”, sem nome e sem futuro, aprisionada como um fantasma na casa grande.

O espetáculo aborda o fim da escravidão e a sociedade, através do olhar uma pequena escrava. Deste universo, surge a dimensão poética e lúdica, e ao mesmo tempo apavorante e cruel, de uma história real. Este imaginário oscila entre a sutileza do mundo infantil e a crueldade de como este pode ser destruído.

Negrinha estreou em setembro de 2007 na Vila Maria Zélia São Paulo e foi apresentado em Curitiba - Casa Vermelha (PR), SESC Ribeirão Preto (SP), Piracicaba (SP), Sorocaba (SP), Santos (SP), Espaço Parlapatões (SP), São José dos Campos, OC Oswald de Andrade (SP), Espaço SESC Copacabana (RJ) e Festival de Inverno Ouro Branco (MG), Belo Horizonte, Goiânia, FAU Maranhão (SP). Em 2008, a peça foi apresentada pela primeira vez no Rio, no Espaço SESC, em Copacabana. Em 2009, voltou à cidade para uma temporada no Casarão de Austregésilo de Athayde e foi apresentada em diversas cidades do Nordeste: Maceió, Salvador, Recife, João Pessoa e Natal. Ainda este ano, a peça será apresentada em Fortaleza e São Luís.

Texto: Sara Antunes. Atuação: Sara Antunes. Direção: Luiz Fernando Marques




São Pedro e Águas de São pedro em cena

4ª Mostra de Teatro São Pedro e Águas de São Pedro Em Cena

Publicado: 16/07/2010 por Rodrigo Alves em Teatro
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Começa nesta sexta-feira, 16, a 4ª Mostra de Teatro São Pedro e Águas de São Pedro Em Cena, com 21 espetáculos teatrais, seis oficinas e uma palestra. Tudo com entrada gratuita! As atividades acontecem no Museu Gustavo Teixeira, Praça Gustavo Teixeira e Cine Shopping (em São Pedro), além da avenida Carlos Mauro (em Águas).

Vou destacar aqui um espetáculo imperdível e que já esteve em Piracicaba no Centlo Cultulao (hoje Lao Bar & Bistrô) e no Teatro Municipal Dr. Losso Netto (em 2008, durante o 3º Fentepira, abocanhando os prêmios de Melhor Espetáculo, Melhor Atriz e Melhor Cenário, fora mais três indicações). Neste blog, inclusive, fiz alguns comentáriosna época.

O espetáculo em questão é “Negrinha“, do Coletivo em Cor, com a interpretação da atriz Sara Antunes. A apresentação será na segunda-feira, às 21h, no Museu Gustavo Teixeira.

Apenas para reforçar o gabarito da apresentação: “Nunca viu Sara Antunes em cena? Precisa ver!”, é o que diz o Jornal da Tarde sobre o trabalho da atriz. “Uma pequena/grande jóia teatral” foi o título de uma crítica estampada em O Globo, quando Sara levou o espetáculo ao Rio de Janeiro. Aliás, nesta cidade, a atriz conquistou um belo papel no espetáculo As Meninas“, de Maitê Proença, e que tive a honra de assistir quando estava em férias por terras cariocas.

Baseado numa personagem de Monteiro Lobato e tirado de um conto homônimo, escrito em 1920, o espetáculo aborda o fim da escravidão e a sociedade, pela perspectiva de uma pequena escrava. Deste universo, surge a dimensão poética e lúdica, e ao mesmo tempo apavorante e cruel, de uma história real. Sara oscila entre a sutileza do mundo infantil e a crueldade de como este pode ser destruído.

NEGRINHA NATAL

UINTA-FEIRA, 8 DE JULHO DE 2010

A cor do olhar


Dramaturgia inspirada em conto de Monteiro Lobato explora preconceitos e sensações de uma “negrinha”

Uma menina negra que viveu num engenho de açúcar no fim da escravidão. Uma vela, uma boneca, grãos de café. Um fantasma que ainda atormenta a Casa-Grande, a “casa de açúcar” como ela gosta de chamar. A peça Negrinha teve como inspiração o conto homônimo de Monteiro Lobato – uma menina que mistura as memórias de sua vida com fantasias e revela, pela perspectiva de uma criança negra, as contradições de uma casa, de um tempo e uma história.

As dependências do Campus Avançado da Cidade Alta do IFRN incorporarão hoje a aura dos casarões do fim do século 19. Uma viagem ao tempo por 50 minutos para recriar um pedaço da história do Brasil: o fim da escravidão. Um momento não relatado nos livros e contado sob a ótica de uma criança sem nome e sem futuro, aprisionada como um fantasma na casa grande e chamada simplesmente de Negrinha. A peça começa às 20h, com temporada até sábado. A entrada é franca.

O monólogo polemiza também ao colocar uma atriz branca vivendo uma personagem negra. A atriz paulista Sara Antunes conta que a mensagem transmitida pela peça varia conforme a cidade. Os cenários, os tipos e o roteiro são adaptados aos costumes da região. No todo, o monólogo desperta reações contrastantes: risadas, comoções, medos, brincadeiras... A interação com o público é ativa e, assim como o diálogo do personagem, procura mostrar a beleza das cores longe do preconceito.

“Negrinha mostra que as cores poderiam ser mais bonitas. Ela, acostumada desde pequena ser chamada de negrinha, cria afeição pela cor das pessoas. E provoco o público a também chamar outros da plateia por cores que sejam semelhantes à sua tonalidade de pele. Isso provoca risadas, mas também reflexões”, diz a atriz. O imaginário das cores na criança demonstra a sutileza e ingenuidade infantil e também o quão cruel rótulos racistas podem se tornar.

A montagem se apresenta fora dos palcos convencionais para provocar uma experiência sensível no espectador. Uma imersão ao universo de Negrinha, através da arquitetura, sons e cheiros. O público encontrará a Casa Grande, com cadeiras e poltronas de época, e a Senzala, com esteiras e tocos de madeira. A iluminação é feita por velas, onde sombras e luzes atuam ao lado da atriz. Um trabalho artesanal voltado ao preciosismo das palavras, objetos e figurinos.

Sara Antunes diz que a peça procura objetos de época relacionados à história de cada região para compor o cenário. “Em Recife conseguimos oratórios e relíquias da época para montar a peça em um casarão com mais de 300 anos. Em João Pessoa encenamos em uma Casa Grande verdadeira. Em Salvador, como há um movimento negro atuante, os diálogos foram mais agressivos. E dessa maneira tentamos moldar o espetáculo à realidade local. Por isso, a montagem é feita por uma equipe da cidade”.

O casarão montado é repleto de detalhes espalhados em cada canto: grãos, uma boneca, fitas de amarrar o cabelo e muitos espelhos e reflexos. As luzes minúsculas de velas cansadas e manipuladas pelas mãos de Negrinha revelam cores amargas e produzem imagens confusas, assemelhadas a sombras e assombrações, de realidades históricas já apagadas da memória. É nesse ambiente um pouco fantasmagórico, enorme e abandonado onde vive Negrinha, as suas fantasias e as contradições de uma época.

“Câmara Cascudo diz que o nome inicia a existência religiosa e civil da criatura. Sem nome não há identidade social e individual. Assim, o que identifica Negrinha, sua cor, é negado por nós ao apresentarmos uma Negrinha “cor-de-leite”. Nesses estranhamentos, ora nas cadeiras de Senhores ora nas esteiras de escravos, que nos posicionamos no curso da criação”, conta o diretor Luiz Fernando Marques. E conclui: “Brincamos com fogo, com gente e com a memória de histórias que não deveríamos perdoar”.

Programação
O Campus Avançado da Cidade Alta do IFRN realiza ainda outros espetáculos de hoje a sábado, dentro do programa A Cor do Olhar. São ações destinadas a discutir e pensar as questões éticas da atualidade. O evento é uma realização dos alunos do 2º período do Curso de Tecnologia em Produção Cultural do IFRN, coordenado pelos professores do curso. Haverá exposição fotográfica, workshop, oficina, debate e apresentação de espetáculos teatrais, todos gratuitos. Confira detalhes de cada ação:

Exposição fotográfica “A multiculturalidade através das cores”, com Carlos Cartaxo/PB
A exposição, composta por 30 imagens, possibilita uma análise comparativa do Nordeste com um país africano através de uma ótica multicultural, geográfica e histórica.
Aberta a visitação de hoje a sábado, das 8h às 21h.

“Negrinha”, com a atriz Sara Antunes/SP
Inspirado no conto homônimo de Monteiro Lobato, o espetáculo Negrinha foi concebido pelo Grupo XIX de Teatro. A montagem conta a história de uma menina negra que não tem nome e é chamada pelo apelido que identifica sua etnia. A criança refere-se a todos ao seu redor pelas tonalidades que os enxerga, o que ressalta a crítica presente no texto: o preconceito da cor.
De hoje a sábado, às 20h. Retirada de ingressos no local, até 1h antes da peça.

Debate sobre questões étnicas
Após o espetáculo “Negrinha”, acontecerá uma conversa entre os presentes sobre as questões étnicas abordadas no monólogo. Contará com participação de professores, alunos do IFRN e integrantes de associações quilombolas do Estado.
Hoje, às 21h, após o espetáculo “Negrinha”.

Workshop "Ator, um autor de seu tempo" (com Sara Antunes, SP)
O workshop tematiza dinâmicas de improvisação, com o objetivo de criar uma vivência de criação do ator-autor, utilizando a música, a relação espacial e a memória afetiva de cada participante.
Amanhã, das 9h às 13h. Inscrições limitadas pelo e-mail centroculturalifrn@gmail.com

Oficina de Teatro do Oprimido
As oficinas de Teatro do Oprimido são espaços de sensibilização, vivência, conhecimento e difusão da metodologia do Teatro do Oprimido, preconizada pelo teatrólogo Augusto Boal.
Amanhã, das 13h às 17h. Inscrições limitadas pelo e-mail centroculturalifrn@gmail.com

Teatro Fórum com grupo “Filhos da Terra”/RN
O grupo é formado por jovens, do Quilombo Acauã, em Poço Branco/RN. A peça conta a história real de jovens deste quilombo que são segregados do sistema de transporte escolar por racismo.
Amanhã, às 19h. Retirada de ingressos no local, até 1h antes da peça

A Cor do Olhar
Quando: de hoje a sábado
Onde: Campus Avançado da Cidade Alta do IFRN (Av. Rio Branco, 743, Centro – antigo Prédio da TVU)
Contato: (84) 4009-0950 ou pelo e-mail centroculturalifrn@gmail.com

NEGRINHA NATAL

Senzala à luz de velas

Publicação: 08 de Julho de 2010 às 00:00
Maria Bethânea Monteiro - repórter

Portando um pequeno kit de sobrevivência e o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, a atriz Sara Antunes foi deixada em um casarão abandonado, datado do início do século XIX. Sara passou a noite na companhia de pombos mortos, ratos e insetos. Através da luz emanada de uma vela, um dos itens do kit de sobrevivência, ela percebeu os relevos sensoriais daquele que poderia ter sido o lar da Negrinha, personagem proposto por Monteiro Lobato. O resultado desta experiência seria utilizado em “Hysteria”, espetáculo do Grupo XIX, de São Paulo, do qual a atriz fazia parte, mas ao invés disso ganhou vida em seu corpo e em seu texto. No lugar de pombos, Sara conta com um público bem vivo, que desde 2007 vem prestigiando o trabalho da atriz. Aqui em Natal, o espetáculo “Negrinha” será encenado hoje, amanhã e sábado a partir das 20h, no IFRN – Campus Avançado da Cidade Alta (Antiga TVU).

DivulgaçãoO  espetáculo “Negrinha” será encenado hoje, amanhã e sábado no IFRNO espetáculo “Negrinha” será encenado hoje, amanhã e sábado no IFRN
Aguardando a montagem do cenário, realizada por alunos do segundo período do Curso de Tecnologia em Produção Cultural do IFRN, Sara Antunes recebeu o VIVER, falou sobre a concepção do espetáculo e relatou algumas experiências marcantes. Com uma fala bem tranqüila e o olhar de quem vela o mundo com pavio e cera multicores, ela disse que “aquele lado invisível, que esconde a memória do ator e abre as portas para o público entrar” está presente com muita intensidade nela e também no espetáculo.

A atriz disse que a experiência no casarão abandonado, somada a outras experimentadas em Cabo Verde, na África e a convivência com o seu pai (que viveu no continente africano) lhe renderam um repertório rico, que dialoga com o mote do conto de Monteiro Lobato: as agruras de uma menina negra sob os auspícios de uma “boa senhora” da Casa Grande.

A peça surgiu da necessidade de fazer ecoar, pela voz baixa e frágil de uma menina, de uma criança escrava que viveu num Engenho de Açúcar, um momento crucial da história do Brasil: o fim da escravidão. “Com a peça não quero tratar de questões do passado, mas da atual. Quero que as pessoas percebam até que ponto a história contada reverbera em cada uma delas”.

Evidenciar um Brasil que a história oficial não relata, sob a perspectiva de uma menina é o recurso dramatúrgico utilizado na peça. Uma “negrinha”, sem nome e sem futuro, aprisionada como um fantasma, na casa-grande, na “casa de açúcar” como é chamada por ela, no engenho onde produz a coisa mais doce e branca e onde se cultiva a escravidão e o preconceito “da cor”.

Unir o fim da escravidão, a percepção do mundo das cores, do engendramento social pela perspectiva de uma pequena escrava foi o desafio criado na construção do espetáculo. É daí que emerge a dimensão poética, lúdica, lírica e fantasiosa, mas, também apavorante e cruel de uma história real.

Este imaginário oscila entre a sutileza do mundo infantil e a crueldade de como ele pode ser destruído. Negrinha é um trabalho artesanal, voltado para o preciosismo das palavras, objetos, sons e figurinos, para trazer o cheiro, cor e forma e realçar novas nuances dessa história. O caráter eminentemente interativo sublinha a união proposta entre esses dois tempos: passado e presente.

Uma história de dor e ausências

A peça lança mão de um cenário, que forja um casarão abandonado do fim do século XIX onde vive a Negrinha. A menina mistura as memórias da história de sua vida com fantasias, revelando as contradições de um tempo. A personagem tem afeição pelas cores, em especial pelas cores das pessoas.

É pelo entrar e sair de salas, que a história fragmentada de uma memória infantil vai se compondo, nos detalhes espalhados pelas crianças – grãos, uma boneca, as fitas de amarrar o cabelo. Os detalhes são recriados, presentificando o imaginário de um tempo, uma casa e uma história. Pelas luzes minúsculas de velas cansadas, longínquas, surgem imagens que podem se verdadeiras ou assombrações da mente, de realidades históricas que não rejeitadas.

A Cor do Olhar

A vinda do espetáculo à Natal foi o resultado de uma parceria com a Petrobrás, que está patrocinando a circulação de Negrinha pelo nordeste, mas também marca a série de eventos culturais promovidos pelos alunos do Curso de Tecnologia em Produção Cultural do IFRN, no projeto chamado “A Cor do Olhar”, que engloba exposição fotográfica, workshop, oficina, debate e apresentação de espetáculos teatrais. As atividades terão início hoje, às 9h, com a Exposição Fotográfica “A multiculturalidade através das cores”, do paraibano Carlos Cartaxo. A exposição, composta por 30 imagens, possibilita uma análise comparativa do Nordeste com um país africano através de uma ótica multicultural, geográfica e histórica e ficará aberta a visitação até o dia 8 de agosto, sempre das 08h às 21h.

Às 20h, o espetáculo Negrinha será apresentado a um público composto por integrantes de comunidades quilombolas e outros convidados. Negrinha será reapresentado gratuitamente amanhã e sábado, às 20h. Os ingressos devem ser retirados até uma hora antes do espetáculo.

A atriz Sara Antunes promove o Workshop “Ator, um autor de seu tempo”, que acontece amanhã, das 9h às 13h. As inscrições são limitadas e devem ser realizadas pelo e-mail centroculturalifrn@gmail.com.

A programação do evento, também contempla a oficina de “Teatro do Oprimido”, realizada amanhã das 13 às 17h (inscrições limitadas pelo e-mail centroculturalifrn@gmail.com) e Teatro Fórum com grupo “Filhos da Terra”, também amanhã às 19h. A retirada de ingressos acontece no local, até uma hora antes da peça.

NEGRINHA MACEIO

http://www.tjal.jus.br/portal/index.php?pag=verNoticia&noticia=2802



NEGRINHA MACEIO

http://www.tjal.jus.br/portal/index.php?pag=verNoticia&noticia=2802

Espetáculo “Negrinha” é aplaudido de pé em sua estreia em Alagoas
Última exibição da peça no Estado acontece hoje (26), às 20h, na Escola da Superior Magistratura

A primeira encenação do espetáculo “Negrinha”, apresentado no Café Literário Marili Ramos, nesta terça-feira (25), na Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal), foi considerado sucesso pelo público, que lotou o espaço e aplaudiu de pé a personagem que dá nome ao monólogo e é vivida pela atriz Sara Antunes. A atração é mais uma atividade do projeto Esmal Cultural e será exibida pela última vez em Alagoas, às 20h desta quarta-feira (26).

Para a protagonista Sara Antunes, escrever e dar vida a uma personagem que retrata uma realidade tão dolorosa é emocionante e enriquecedor. “Eu represento aqui todas as crianças que são privadas de sonhar e de viver com dignidade, independentemente da cor da pele ou de qualquer outro tipo de preconceito”, explicou. A personagem Negrinha é inspirada no conto homônimo de Monteiro Lobato.

A desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento, presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) e uma das responsáveis por incluir Maceió entre as cidades que receberiam a atração, prestigiou o evento. “É indescritível a emoção de assistir nesse espaço a um pouco da nossa história. Nosso chão alagoano também foi muito marcado pela escravidão” disse a magistrada. Além dela, o desembargador Alcides Gusmão da Silva também esteve presente no espetáculo.

No ritmo do coco de roda alagoano

Com poesias musicadas no pandeiro e inspiradas pelo ritmo do Coco de roda alagoano, a dupla de intérpretes Rogério Dias e Fagner Dubrown abriu a noite. Além de composições próprias, a dupla musicou também a poesia Nêga Fulô, do artista alagoano Jorge de Lima.

Em seguida, os espectadores "mergulharam" na história de “Negrinha”. Em um cenário que lembra uma casa antiga de senhor de engenho, efeitos que atravessam luz e trevas apenas com a claridade das velas e utilizando aromas de ervas, o monólogo convida o espectador a experimentar uma viagem pelo tempo. O ambiente, a casa grande de um engenho de açúcar. A personagem, uma criança negra que é encantada pelas cores, em especial pelas cores das pessoas.

Segundo Sara Antunes, muitos espectadores se chocam, no início, por ver uma atriz branca vivendo um papel de negra. Para ela, a peça é um convite a reflexão sobre a exclusão social e o preconceito racial. “É importante que as pessoas pensem em qual história devemos escrever na vida. Essa conta uma que aconteceu no passado, mas será que ela não se reproduz mais nos dias de hoje?”, indagou Sara Antunes.

Origem da encenação

A peça foi criada em 2007 e trata a escravidão e a abolição pela perspectiva de uma criança sem nome, futuro ou esperança. Dirigida por Luiz Fernando Marques, com direção de arte de Renato Bolelli Rebouças e coordenação de Paulo Mattos, esse espetáculo já percorreu diversos estados brasileiros, a exemplo de Rio de Janeiro e São Paulo. Atualmente, faz uma turnê pela região Nordeste, apoiado pela Petrobras.


sábado, 22 de maio de 2010

NEGRINHA POR CERONHA

SÁBADO, 22 DE MAIO DE 2010

NEGRINHA


Porque cantar parece com não morrer

É igual a não se esquecer

Que a vida é que tem razão.

(Ednardo)


Observa a vã filosofia que no mundo feliz ou desgraçadamente globalizado já não há tempo para a novidade. E nem antigo há de se tornar o que já brota e fenece tão imediatamente. Descartável.

Pois orgulhosa constato que sou velha. Considerando se tratar de uma conquista que pressupõe a plena experiência do novo. Digo-lhes esta tolice com a vaidade e o lamento também, de quem vive à revelia do tempo de mercado onde, como dizia o menino Cazuza, “sementes mal plantadas já nascem com cara de abortadas”. Começo por esta conclusão para explicar que já me livrei da frustração de não conseguir manter o blog girando na velocidade que o próprio veículo sugere. Ocupo-me do que me exige ou contempla com a eternidade para experimentar.

Desobrigada a postar tão logo tenha a ilusão de alcançar “a coisa”, antes rumino. E finalmente venho compartilhar os arrepios que me causou uma certa NEGRINHA.

Há bastidores que são realmente de se agradecer aos deuses. Conheci Sara Antunes num desses encontros de gente de teatro lá no meu Ceará. Ouvi-lhe falar de um seu espetáculo inspirado num conto do Monteiro Lobato. Menina pequena e pretinha abandonada numa Casa Grande, “casa de açúcar” onde ela amarga os horrores de um veneno cuja ação traiçoeira repercute ainda: A ESCRAVIDÃO. Interessei-me já. Idéia, desejo, coragem de olhar e nos fazer enxergar coisas do viver que muito se pretende largar ao esquecimento. Uma artista, pensei. Compromete-se para além da forma.

Consumou-se a admiração ao vê-la em Hysteria e Hygiene, espetáculos do Grupo XIX, de São Paulo, do qual a atriz fazia parte.

Fim de uma espera. Sara trouxe recentemente ao Recife o seu espetáculo, que ficou em cartaz numa sala do Centro Cultural Benfica, construção erguida há cerca de 350 anos. É da própria concepção desta obra encená-la em casarões antigos. Divididos entre Casa Grande e Senzala, entramos no espaço-tempo, descobrimos os restos de mobília, a ferrugem dos objetos, respiramos o pó, apuramos a vista na escuridão da História, para só então o assombro com o fantasma da sujinha, baratinha, coisinha, sapinha, a bisca, o trapo a cachorrinha, NEGRINHA.

É preta a atriz “branquiça”. Alguém duvida? É preta! E não me valho da tal fé cênica para afirmá-lo. É preta a Sara Antunes, no que ela tem de levar ao palco o que é de sua profunda e absoluta necessidade tratar. E neste momento são muito seus o discurso e as agruras da escravinha.

Nobres blogueiros, NEGRINHA é coisa-ruim, é de se desmamar recém-despejada no mundo, aquele traste. Que importa se tem fome, a peste? Se tem sede, se tem mãe, se tem boneca, se tem amor? Amor? Que sacrilégio! E isto lá é coisa que tenha um bicho preto de cor? Com muita sorte, aquele trapo mau preto pequeno, pinto-gorado, pata-choca, a coruja, o diabo, a NEGRINHA cresceu sob os santos cocres, abençoados beliscões e pontapés e safanões e outras louváveis judiarias de ordem educativa e purificadora, aplicadas por sua sinhá, a “Dona Áurea Cândida, que era uma mulher muito boa”. Horror!

E Sara, ora nos embevece, ora aterroriza com aquela coisinha que de um tudo sofreu na porcariazinha da sua vida ligeira. Com olhos de ver tudo colorido, mesmo sob a fraca luz de velas, NEGRINHA brinca com a platéia jogos de uma ingenuidade comovente. “Ô Esverdeado, que cor tem esse aqui?” E os amarelos e azuis e violetas, rosados, alaranjados, vermelhos, marrons, pretos e brancos também e os sem cor, os sem teto, os sem chão, os sem rumo, os sem eira nem beira, os sem porra nenhuma na bandida desta vida, todos ali, de coração na boca. Eita da vontade de recolher a pequena! Cuidá-la. Dá tempo mais não. “Perdeu, Esverdeado, ocê perdeu!”

A proposta veio do diretor Luiz Fernando Marques, que “trancou” Sara num casarão da Vila Maria Zélia em São Paulo, e a “abandonou” ali cercada de elementos que remetem à atmosfera do conto de Monteiro, alimentando a inspiração de uma atriz que bem escreve o próprio texto seu, perfeitamente cabível na boca de preta sapinha.Não está na grande frase de efeito a força do seu dizer. Toda a História se conta no não entender da pulguinha. E tenho lido avaliações riquíssimas sobre a famigerada Lei Áurea, mas nenhuma de me descontrolar no peito um coração tambor. Pois assim foi quando batia a NEGRINHA com a colher de pau na panela de ferro, transtornada, anunciando o 13, não sei que lá o 13, foi no 13, a Áurea do 13, os nêgo tudo explodindo de alegria e esperança. Vão-se fogueiras humanas a celebrar a tal da liberdade. NEGRINHAperdeu. Não queimou com eles, presa que ficou no abraço sufocante de Dona Áurea. Viu das janelas da “casa de açúcar”, ao longe, as fogueirinhas espalhadas, estrelas de negros. Ficou olhando até que se foram apagando uma a uma, “uns poucos aqui, uns gatos pingados ali”. Escravidão demora a largar.

Em nó se fez esta minha garganta. Arre égua da agonia com ingenuidade da coisinha! Pois acompanhava o movimento de mudança da “casa de açúcar” para a “casa de café”, vendo a “Dona Áurea Cândida, que era uma mulher muito boa”, a separar o de valor para levar consigo. O resto largaria no casarão assombrado. “Cama serve, castiçal serve, bandeja serve, os pratos... Ô Dona Áurea, e aNEGRINHA?” Pensemos em pavorosa resposta ainda não, adiemos o desfecho, pois que a negrinha alguma alegria conheceu, ainda que breve, brevíssima. Vejamos.

Como se fosse sonho (e preto sonha?), apareceu branquíssima sobrinha da sinhá sua dona, passar férias com a tia. Com ela, objeto que esbugalhou os olhos da sapinha, o alumbramento touxe-lhe o queixo ao peito. Nunca tinha visto boneca, a pobrezinha. Que coisa tão impossível de caber na imaginação da pretinha, cuja experiência se limitava a contar de um São Benedito das Neves. “É feita?” Perguntava extasiada. “É menina feita!” E não demorou a ter que tirar suas mãos pretas sujinhas da fina louça da sem vida. Diferente do conto, em que Lobato neste momento se compadece da Sinhá, fazendo-a experimentar uma quase bondade, Sara não lhe favorece com a redenção. Na peça, “Dona áurea Cândida, que era uma mulher muito boa”, não tardou a ensinar à escravinha que meninas feitas, tal qual as nascidas, também se dividem pela cor.

Agora danou-se! Depois de entender que há crianças de levar cocres e outras de ganhar carinhos, crianças de vestir trapos e outras cobertas de rendas, crianças comendo lavagem e outras lambendo docinhos, negrinhas para castigos, branquinhas para brinquedos, ah,NEGRINHA já não era a mesma! Seguindo com Monteiro e apelando de novo para a minha companheira nem sempre inútil, a filosofia, recordo um Descartes conhecido de todos: “Penso, logo existo”. Foi o caso. Agora dava conta de si e do mundo em que vivia. Finalmente sabia-se infeliz a menina.

No conto, Lobato conta que definhou de tristeza a NEGRINHA: “Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza”. Na peça recebeu-nos morta já. Livre do frágil corpinho sujeito a torturas. Sobrou-lhe, no entanto, a vida longa do espírito, cujas marcas ainda doem. Aberta continua uma ferida Brasil, desigual e perversa.

Talvez esperassem que fizesse uma avaliação mais técnica da coisa. Posso não. Nem me dei conta do método(por certo que há), que é como um caminho invisível. O percurso de Sara para estar tãoNEGRINHA é livre de exibicionismos. Não posso mais do que estar emocionada, e ainda mais atenta aos mecanismos de impedir a liberdade.

É justo ainda dizer que junto a Sara Antunes e Luiz Fernando Marques, atua um diretor de arte, um artista Renato Bolleli Rebouças, que extrai do lixo a sua obra. E não como uma comprovação daquela idéia de outros carnavais de que “pobre gosta de luxo, quem gosta de lixo é intelectual”, ora me poupem de comparação infeliz. O buraco é mais embaixo. Um teatro que se faça dos rejeitos de idéias e coisas, contrariando a sua morte tantas vezes anunciada, resiste exatamente naquilo que só ele é capaz de não deixar que morra. O resto é DESCARTÁVEL como propõe o mercado para o qual sigo de ouvidos moucos.

Salve NEGRINHA!

Evoé.

CERONHA PONTES

Recife-PE, 22 de maio de 20

sexta-feira, 21 de maio de 2010

em recife

Negrinha. Belo Momento

Apresentação em Recife do monólogo “Negrinha”, interpretado pela atriz Sara Antunes. O texto é baseado no conto de Monteiro Lobato, e adaptado pela atriz.
Uma bela e emocionante abordagem de Luiz Fernando Marques, que dirige Sara Antunes no monólogo. Sara, estupenda em atuação de grande sensibilidade.
A genialidade e o viés visionário de Lobato ganha um formato lúdico e poético, que potencializa a singularidade da percepção que, atual, mostra a cegueira saramagueana da sociedade diante da trilha dos negros desde os tempos de escravidão até os dias de hoje.
Fomos assistir a peça, na quinta 13, no Centro Cultural Benfica, e saímos impressionados com o espetáculo. Gostamos da apresentação, da concepção, da atuação, da direção, de tudo.
O espetáculo segue em circulação por capitais brasileiras e, em breve, se apresenta na França.
Na saída do espetáculo pedimos a algumas pessoas as impressões sobre a peça e colhemos depoimentos.

RECIFE E MINAS VIAGENS PRA DENTRO DA RAIZ DE UM BRASIL

Tem sido MÁGICO apresentar NEGRINHA
desde a festa de São Beneditos dos Negros!

Viva São Benedito na Aruanda!

Recife veio ele junto com José Santeiro...

um público delicioso, doce, sensivel, visionário, casas grandes, fantasmas, senzalas escravos seculares roda de engenho corrente de escravo e a memória da história atravessou a todos, cidade arte.

Foi LINDO em Minas Gerais aonde estive ontem!

corpo cansado alma radiante!!!

cor-de-doce-de- leite queimado, doce de abobora, pretim ameixa, amareliço, cor-de-leite-de-vaca, leitosa, branquiça de coco, esverdeados capim cor das minhas Raizes multicoloridas e profundas!

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Prezados,

De Recife atual se poderia dizer o mesmo que Shakespeare (pela boca de Hamlet) disse do mundo de seu tempo: um “jardim inculto em que se medram ervas daninhas, cheio só das coisas mais rudes e grosseiras”. A terra que em de seu ventre pariu Manuel Bandeira, Antônio Maria, Carlos Pena Filho, Joaquim Cardozo, João Cabral de Melo Neto e que foi mãe adotiva de Clarice Lispector e Ascenso Ferreira é hoje uma cloaca de fedentina e violência onde o único teatro que se encena é o “Som e a Fúria” dos parlapatões que os corações de mais sensibilidade têm de aturar noite e dia. Foi nesse solo pedregoso que a Negrinha Branca foi plantada como uma semente de beleza no meio de um vácuo acéfalo. Meus olhos, já tão calejados de descrença pela péssima qualidade do teatro atual (sobretudo o que se pratica nessa cidade acéfala), foram surpreendidos pela exuberância de um espetáculo que minha costumeira exigência muito surpresamente classificou como PERFEITO. A ambientação perfeita (cenário, luzes, figurino) foi uma fruição estética que demorarei a esquecer. O roteiro foi muito digno, cumpriu a exigência mínima de quem ousa fazer intervenções em textos clássicos: manter o mesmo nível de qualidade do original (e em se tratando de Monteiro Lobato o valor dessa tarefa não pode ser minimizada). Considerando que o texto original carecia de elementos plásticos suficientes para, por si só, constituir-se num roteiro suficiente, a mudança de paradigma e a Negrinha com seus solilóquios foram uma referência muito feliz ao texto e à personagem (uma de minhas preferidas da literatura). Por fim minha vênia emocionada pela atuação soberba de Sara Antunes. Nunca vi nada igual em teatro. Tive a felicidade de cumprimentar pessoalmente Sara após o espetáculo, mas minha emoção não me permitiu ser mais claro quanto ao que ali exigia que se fosse dito, que Sara cumpriu magistralmente o sentido de toda a Arte: dar ao expectador o desespero de si próprio. Nesse sentido ela cumpriu o sentido radical do teatro, o que está mais de acordo com suas raízes gregas: o de transmitir (de modo leve ou com marteladas) o sentido trágico da existência. Peço a gentileza de que esta opinião chegue ao conhecimento de Sara.

Um abraço.

Pedro Gabriel

Olá, pessoal do projeto "Negrinha" !
Vi hoje à noite, aqui em Recife, a comovente encenação protagonizada por Sara Antunes. Que coisa emocionante ! Uma das coisas de que mais gosto em ir ao teatro é porque sinto que a gente sempre se beneficia duplamente. Uma, por apreciar uma construção cênica bem urdida; outra por presenciar o desempenho de um artista(s) cujo poder de nos tocar se potencializa quando em nossa presença.
Sara, renovo o recado que deixei no "livro de visitas" de vcs: parabéns por seu talento e pelo poder de nos encantar ! E parabéns por abordar conteúdo tão delicado, já que se trata de tema que sempre envolve dor e culpa, de forma tão contundente porém sem abrir mão dos recursos infinitos da poesia. Bravo !
Queria ousar até fazer um comentário mais pessoal. Me permita. Ao final, enquanto uns assinavam o livro e outros conversavam com vc, cheguei perto para parabenizá-la. Vc logo me "reconheceu" (a dona Áurea Cândida em pessoa, rsrsrs..., por sinal, ótimo sacada esse nome!). Sua postura educada, atenciosa e receptiva parecem que fazem jus à excelência da atuação que tínhamos acabado de ver. Seu abraço caloroso passa a sensação de uma pessoa de alma boa, de coração afetuoso e generoso. Pois se esse gesto buscava aplacar alguma insegurança em vc, saiba que encheu de calor humano o coração de uma espectadora que chegou ao teatro agitada e meio macambúzia do trabalho. Saí do teatro em estado completamente diferente daquele que tinha chegado. Obrigada também por isso.
Aproveito para desejar muito sucesso à "Negrinha" e "As Meninas". Espero poder ir a S.Paulo uma segunda vez este ano para conferir mais esse trabalho seu.
Bjs,
Andréa Mello Rêgo
(Recife - PE)